quarta-feira, 2 de março de 2011

Grande Rio Reconstói alegorias

Depois do luto, o Carnaval vai ressurgir das cinzas, prometem os integrantes da escola Acadêmicos do Grande Rio que teve perda total do seu Carnaval no incêndio que atingiu a Cidade do Samba, no último dia 7 de fevereiro.

No início da noite daquela segunda-feira que vai ficar na memória de muitos cariocas, o passista Marcelo Amorim se reuniu com os dançarinos em frente aos escombros do que antes era o barracão da Grande Rio na Cidade do Samba. “A gente veio para cá ver se dava para fazer alguma coisa, mas, de fato, não deu para fazer nada. A coisa estava muito feia, desabou parede em cima de carro”, relatou. Marcelo e muitos componentes da comunidade foram ao local do incêndio para tentar compreender melhor o que havia acontecido e se aquilo era mesmo verdade. O sentimento era desolador. “Muitos vieram para conferir se foi isso mesmo, mas acabou literalmente tudo. Da Grande Rio foi tudo mesmo”, lamentou o passista.



A semana do dia 7 de fevereiro começou com ares de frustração e de sentimento de trabalho perdido. Naquele dia ninguém trabalhou em nenhum dos barracões da Cidade do Samba que reúne as 12 escolas do Grupo Especial. Foi um dia de luto. O porta-voz da escola e diretor dos passistas, Avelino Ribeiro, disse que, assim como muitos cariocas, foi acordado com a notícia da tragédia e disse não ter acreditado quando viu pela televisão as imagens. “Catástrofe total”, resumiu. Das fantasias que viraram lixo e dos carros alegóricos que viraram pó, agora é hora de dar a volta por cima e a agremiação de Duque de Caxias já se prepara para refazer as fantasias e levar quatro alegorias para a avenida.“É como a Fênix, vamos ressurgir das cinzas”, disseTavinho Novello, odiretor de carnaval da escola de Duque de Caxias, que atua há mais de 10 anos no ramo. “É a hora da superação, essa é a palavra de ordem. Eu tento não lembrar, mas quando lembro eu fico triste de novo. Era um Carnaval de título”, lamentou.A escola se lançou ao desafio de levar quatro carros alegóricos para o Sambódromo na madrugada do dia 8 de março e ainda promete ter fantasia para os cerca de 3.600 componentes da escola. “Está sendo um mutirão da solidariedade, do recomeço e da reconquista. Temos recebido algumas doações de fornecedores. Muita gente acha que a Grande Rio vai de bermuda e chinelo. Nem a nossa ala de turista vai estar assim. As alas comerciais já foram vendidas. Tenho agora um objetivo: ensaiar a quadra e reconstruir esse Carnaval dentro do barracão”, afirmou.Este será um ano da “total superação”, frisou Tavinho Novello. Ele destacou que se tivesse mais um mês, a escola iria com sete carros alegóricos. Com um desfile orçado em quase nove milhões de reais, a escola se preparou para disputar o título este ano com o enredo em homenagem à Florianópolis e às belezas da ilha cercada de magia e encantamento, como definiu o carnavalesco Cahê Rodrigues, que assina pelo terceiro ano consecutivo o enredo da escola.

“Agora o compromisso nosso é maior ainda, a gente tem que montar em cima do que tem e a escola está provando ainda mais a sua união. A gente tem o sonho de dar uma satisfação para a torcida de Caxias. Os olhos do Rio vão estar voltados para ver como a Grande Rio vai entrar na avenida. Posso garantir que mesmo assim ela pode surpreender”, disse Tavinho.

Ficar sem desfilar a escola não vai, garantem todos os integrantes e funcionários que estão trabalhando em regime de mutirão 24 horas no barracão cedido pela Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba). Os funcionários e artistas plásticos começam do zero. O único carro que sobrou foi o mini-carro das bruxas usado nos ensaios técnicos na Marquês de Sapucaí. O fogo destruiu tudo, mas a escola vai desfilar com dignidade, este é o sentimento geral dos artistas, aderecistas, escultores, carpinteiros e ferreiros que se revezam em turnos e varam as madrugadas na Cidade do Samba.

Ao som dos sambas-enredo da Grande Rio, mais de 30 homens trabalham nas ferragens dos carros alegóricos. “Isso tudo é garra, é pela vontade de ver o carnaval na avenida. Não vai ter aquele luxo, mas o carro abre-alas vai ter as bruxas e o caldeirão, ele foi recriado e vai ter alguma surpresa”, contou o diretor de barracão, Paulo Machado. O carro que faria uma homenagem ao ex-tenista brasileiro Gustavo Kuerten, o Guga, vai ser remontado assim como a taça que será reproduzida.

O que mais motiva os profissionais do carnaval é “o prazer de tentar mostrar aquilo que já estava pronto”, define o jovem aderecista de 21 anos, Thiago Denyz Ribeiro Barbosa. “Fiquei em estado de choque, muito abalado. A gente estava trabalhando de 14 a 15 horas por dia para tentar mostrar uma coisa maravilhosa e, num piscar de olhos, isso acaba. É uma coisa muito triste”, disse.

Thiago Denyz contou que, no fim de semana que antecedeu o incêndio, ele e sua família de artistas plásticos tinham finalizado o último carro alegórico. “Já estava pronto o nosso trabalho, era só fazer o acabamento. Naquele domingo a gente saiu comemorando. Agora a gente quer mostrar que a Grande Rio estava pronta, que tinha uma bonita arte para mostrar. Vamos ficar até de madrugada para a escola fazer um espetáculo. Quando ela entrar na avenida e todo mundo estiver cantando o samba, muita gente vai se arrepiar”, ressaltou Thiago.

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